domingo, 30 de dezembro de 2012



Cinema Educativo

No Brasil, a relação entre cinema e educação remonta aos anos iniciais do século XX. O cinema educativo desenvolve-se no Brasil a partir da figura de Fernando de Azevedo, que determinou o seu uso em todas as escolas primárias em 1929. Anos mais tarde, em 1937, foi criado o Instituto Nacional de Cinema Educativo (Ince). Na visão do Ince o cinema funcionaria como “facilitador da tarefa pedagógica, um colaborador do ensino e, mais do que motivação, ele seria uma forma de propiciar alívio para o aprendizado penoso” Oliveira (2000 apud NOMA, 2006, p. 267).
   Apesar do fascínio que o cinema exercia, existia a preocupação com o impacto moral que as imagens poderiam causar sobre a sociedade e principalmente sobre as crianças. Quanto a esse aspecto Teixeira (2004) nos lembra que:
                                     O surgimento do cinema educativo no Brasil, como vimos, vem da necessidade de tentar controlar as imagens que se produziam sobre o país e sua realidade, instrumentalizando essas imagens para as mudanças sociais, econômicas e sociais que viriam, dirigidos por aqueles que detinham o poder e o saber, e definiriam sua direção. (p. 270)
A expansão dos recursos audiovisuais tanto nos ambientes cotidianos como nas escolas acontece com a popularização dos aparelhos de DVD e computadores: Embora a arrasadora maioria dos filmes tenha sido feita com a função de entretenimento, por meio deste recurso as pessoas “também se informam e formam ideias a respeito das coisas do mundo” Bruzzo (1999, p. 3). Ou seja, embora muitos recursos áudio-imagético não tenham sido feitos com alguma finalidade didática, destaco o seu caráter como um elemento motivador no desenvolvimento de atividades pedagógicas. E é desse ponto que podemos começar a refletir sobre o papel educativo do cinema. É claro que o vídeo não tem somente a função motivadora no processo de ensino-aprendizagem. Indicação de Carneiro (2001) aponta outras funções do vídeo como um elemento informativo, ilustrativo, meio de expressão. Dependendo da criatividade do professor para usar filme em sala de aula, logicamente o vídeo passa ter outros usos pedagógicos que não os mencionados.
Autores como Fantin (2007) e Christofoletti (2009) defendem a adoção do cinema como um elemento enriquecedor e ampliador do repertório cultural dos alunos e também agente de socialização na construção e partilha de significados sociais:
Ampliar o repertório cinematográfico das crianças significa assegurar acesso a uma diversidade de temas, abordados das mais diferentes formas. Trazer filmes de diferentes países e culturas para a escola e mostrar outros modos de ver significa permitir que as crianças usufruam do patrimônio cultural da humanidade a que de outra forma dificilmente teriam acesso, devido aos condicionantes históricos e sociais do nosso contexto. (FANTIN, 2007, p. 07)

Ainda que grande parte das escolas recorram aos filmes como um suporte pedagógico nas aulas, Fantin (2007) critica o fato de a escola não incentivar a produção e criação de audiovisuais pelos próprios alunos, considerando o pressuposto de que é preciso fazer para aprender.
Defende-se a adoção dos filmes na escola como um recurso motivador do ensino-aprendizagem, mas a relação cinema-educação não pode se acomodar neste viés. É preciso analisar filmes na escola de forma crítica, repensar sobre os produtos culturais que a sociedade produz, sobre que ideologias estão sendo transmitidas através dos meios comunicativos. Acredito em uma mediação crítica do professor na tentativa de fazer do aluno um espectador mais crítico quanto às suas escolhas Ou seja, pensar a relação entre educação e cinema significa refletir também sobre a intensa produção tecnológica e cultural da sociedade e a consequência da interação mídia-educação na formação dos alunos.
                                     
Referências Bibliográficas

BRUZZO, C. . Filmes e escola: isto combina?. Ciência & Ensino (UNICAMP), Campinas, n.6, p. 03-04, 1999.

CARNEIRO, V. L. Q. (Org.); FIORENTINI, L. M. (Org.). TV na Escola o os Desafios de Hoje: Usos da televisão e do vídeo na escola. 2. ed. Brasília: Editora UnB, 2001. v. 01. 189 p.


CHRISTOFOLETTI, Rogério. Filmes na sala de aula: recurso didático, abordagem pedagógica ou recreação? Revista do Centro de Educação UFSM. Santa Maria, v.34, n.3, p. 603-616. Set/dez. 2009. Disponível em:< http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/1171/117112620013.pdf> Acesso em: 15 mar. 2012.


FANTIN, M.. Mídia-educação e cinema na escola. Teias. Rio de Janeiro. v. 8. 13 p. 2007. Disponível em: <http://132.248.9.1:8991/hevila/Revistateias/2007/vol8/no15-16/11.pdf > Acesso em: 04 maio 2012.
NOMA, A. K.. A pesquisa histórica em educação com fontes audiovisuais. In: SCHELBAUER, Analete Regina; LOMBARDI, José Claudinei; MACHADO, Maria Cristina Gomes (Orgs.). Educação em debate: perspectivas, abordagens e historiografia. Campinas: Autores Associados, 2006, p. 257-275.

TEIXEIRA, Francisco Elinaldo. (org). Documentário no Brasil. Summus Editorial. 2004. 312 p. 


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